Tocata, instrumentos típicos

Na tocata o grupo usa o que realmente é genuíno, a nossa inconfundível viola da terra, de dois corações, também conhecida por viola de arame, que dá ao nosso folclore um som ímpar, que lhe é muito próprio e uma característica única açoriana. Desconhece-se, no entanto, a origem deste instrumento, sendo de supor que tenha vindo para esta ilha com os primeiros povoadores, provenientes de alguma região do continente português e aí se tivesse perdido posteriormente também é usado no grupo como acompanhamento, o violão, o tambor, e os ferrinhos, estes dois últimos ainda têm reminiscências árabes, de onde também vieram alguns povoadores como presos e escravos. Aqui também se nota os mais variados trajos originais, tais como ricos, remediados e pobres.

Pézinho da Vila

Como nasceu o “Pezinho da Vila”?
Terá vindo com os primeiros povoadores ou será criação local?
Segundo o Tenente José Dias, talvez o “Pézinho da Vila” tenha nascido em Vila Franca do Campo, e dali passou a generalizar-se por toda a Ilha, pelo sabor da sua melodia, ao aparentar-se com a essência das nossas restantes modas.
O “pézinho da Vila” é um balho alegre, movimentado e cheio de vida. A sua linha metódica é curta; mas graciosa.
É um balho de roda, com pares, balhadeiras à frente dos balhadores, braços elevados à altura do ombro, paralelos e semiarquiados; dedos como castanhetas a produzirem estalos.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Sextilhas com sentido humorístico
  • Passo - De Polca
  • Pares - Em nº par ou ímpar
  • Movimentos - Quarto

Balho da Povoação

O “Balho da Povoação” é o único balho em que os pares dão mas mãos. Dão-lhe o nome de Vila da Povoação, porque é originário desta, a primeira terra a ser povoada pelos portugueses, por volta de 1439. É muito antigo e a sua coreografia lembra uma flor que se abre e fecha.
È um balho de roda, com os balhadores em frente das balhadeiras de mãos dadas, pois é o único balho em que isto acontece.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras soltas e próprias
  • Passo - De Polca
  • Pares - Em nº par ou ímpar
  • Movimentos - Quarto

Pézinho Velho

Não se sabe ao certo de que localidade micaelense é originário, o que há a certeza é que era balhado em diversas freguesias de S. Miguel.
É um balho de roda, com os balhadores à direita das balhadeiras, ou seja do lado de fora da roda, mas virados para o lado contrário destas, colocam a mão esquerda no ombro deles.
Como terão oportunidade de observar, este balho é mais lento, sendo de supor que fosse balhado por pessoas mais idosas, visto ter um carácter mais sóbrio.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras soltas e próprias
  • Passo - De Polca
  • Pares - Em nº par ou ímpar
  • Movimentos - Dois

Balho do Santa Maria

O “Balho do Santa Maria”, por ter este nome, nada indica que seja originário da Ilha de Santa Maria, mas sim da freguesia de Água Retorta, onde foi feita a sua recolha. Quando muito, poderá ter sido dançado primeiramente por alguém natural daquela Ilha.
É um balho de roda, composto por quatro pares, podendo-se fazer-se duas rodas, com quatro pares cada..

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras soltas e próprias
  • Passo - De Polca
  • Pares - Em nº par
  • Movimentos - Quarto

Chamarrita

Chamarrita, supõe-se ser a origem da palavra “chama-a Rita”, uma das nossas modas regionais.
Como primeira hipótese, temos o uso da gente açoriana, quando de longe chama alguém, modelar a voz, cantar chamando. Por esta razão, é natural que o facto se tenha dado com a vizinha Rita, que ao chama-la o faria cantando.
Em segunda hipótese, é provável que certo jovem nos alvores da paixão, bastante empertigado, tivesse chamado pela “sua Rita”, por ela não voltar a atende-lo ou a entende-lo. Ela mantinha-se intransigente e ele sob infantil impertinência, exclama, exclama cantando:
- “Se a Rita não volta eu grito aqui D’el-rei”.
Temos ainda uma jovem chamada Rita, cujo amado emigrou, com o objectivo de possuir algo mais, prometendo mandar notícias. Todavia essas notícias tardaram tanto, que a rapariga entristeceu. As amigas, para a alegrar, juntaram-se a rapazes e cantaram-lhe uma música, no auge da qual, diziam chama-a Rita.
E ainda põe-se a hipótese deste nome provir de uma santa mulher (Rita), que comia a carne com quem queria e dava os ossos ao marido.
Vemos aqui o bom humor, mas também a agressividade contra uma pessoa que actua de diferente maneira que a maioria.
É um balho comum a todas as Ilhas dos Açores, mas com coreografia e música completamente diferentes.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras soltas e próprias, com sentido de humor depreciativo
  • Passo - De passeio (valsa pulada, cadenciada)
  • Pares - Em nº par ou ímpar
  • Movimentos - Três

Irró

O Irró é um balho originário de Vila Franca do Campo, que é uma terra piscatória, na qual, os pescadores, na segunda-feira de Pascoela, celebram a festa de S. Pedro Gonçalves, com procissão e missa cantada. À noite faziam, geralmente, o jantar em casa do mestre do barco. Depois percorriam as ruas da Vila, cantando e balhando a moda tradicional, que é o Irró.
O nome “Irró”, vem da deturpação da palavra “Herói”, a que se referiam a S. Pedro Gonçalves.
É um balho de roda, com pares, balhadeiras à esquerda dos balhadores, ou seja do lado de dentro da roda.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras e estribilho próprio
  • Passo - De Polca e (valsa pulada, cadenciada)
  • Pares - Em nº par ou ímpar
  • Movimentos - Dois

Bela Aurora

A bela aurora, canta-se e balha-se em todas as Ilhas dos Açores, à exepção do Corvo. Em cada uma delas alguns traços comuns as ligam, quer no canto, quer no acompanhamento das violas, e mesmo na letra.
Em S. Miguel, tem a sua origem no Nordeste, e daí terá irradiado para o resto da Ilha
A sua coreografia seja muito diferente de Ilha para Ilha.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras e estribilho próprio
  • Passo - De Polca e (valsa pulada ou cadenciada)
  • Pares - Em nº par ou ímpar
  • Movimentos - Dois

Manjericão da Serra

O “Manjericão da Serra”, é um dos balhos mais curiosos da Ilha de S. Miguel, sobretudo pelo lirismo da letra e da música. É uma moda que cheira a campo, cheira mesmo a manjericão, que é o regalo dos pastores, pois é como se sabe, uma das ervas aromáticas mais estimadas do povo português.
O “Manjericão da Serra”, é uma moda e um balho, que remonta aos tempos do povoamento da Ilha de S. Miguel, desconhecendo-se a sua origem.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras soltas, próprias e estribilho em sextilha próprio
  • Passo - Valsa cadenciada, pulada nas quadras e de Polca na sextilha
  • Pares - Em nº par, quatro ou oito
  • Movimentos - Três

Tanchão

Há várias versões desta moda na Ilha de S. Miguel.
Há o “tanchão” cantado e balhado no concelho da Povoação, existe outro para os lados da freguesia da Maia no concelho da Ribeira Grande, que infelizmente já se perdeu na voragem dos tempos, e há aquele que, mais se canta e balha, cujo a recolha foi feita na freguesia da Achadinha, concelho do Nordeste, com uma coreografia muito bonita e com um cantar muito dolente.
A palavra tanchão, também significa uma estaca que nas Sete Cidades, era usada e ainda o é para amarrar os barcos, e marcar as propriedades, aquando da cheias na lagoa que naquela freguesia existe, e depois desta passar, saberem a divisória das mesmas, bem como nas Furnas, onde era usada apenas nesta última utilidade
No nosso tanchão, mostra-se a tensão entre o desespero e a animação, que são dois elementos de destaque na alma micaelense. Uma das marcações deste balho lembra o voo da borboleta a voar de flor em flor.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras próprias
  • Passo - De Polca e de polca pulado pelos pares que estão a fazer 2º e 4º movimentos
  • Pares - Em nº par ou ímpar
  • Movimentos - Cinco

Cana Verde

Designa-se “Caninha Verde das Sete Cidades”, porque só neste lugar é conhecida.
Como lhe juntaram, num segundo andamento a moda do preto, um brasileiro, grande balhador, tinha o hábito de acabar o balho, com esta moda do preto, que trouxe do Brasil, e era sempre no fim da “Caninha Verde”, que gostava que se cantasse e balhasse o “Preto”, e assim se passou a fazer, mas em vez de se parar no meio dos dois balhos cantava-se tudo de seguida.
Outra versão, mostra-nos que o balho da “Cana Verde” é originário dos escravos pretos, que vinham, a esta Ilha, e antes de serem vendidos, ficavam na Freguesia do Faial da Terra, num lugar denominado Labaçal, os quais balhavam um pouco curvos e com os braços caídos, e que ao serem depois dispersados pelo resto da Ilha, o continuavam a fazer. Tendo despertado interesse ao povo das Sete Cidades, que o terá adaptado à “Cana Verde”.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras próprias, e estribilho próprio
  • Passo - De Polca nas quadras e de polca pulado no estribilho
  • Pares - Em nº ímpar
  • Movimentos - Três

Saudade

A “Saudade”, é uma moda, de melodia das mais belas do Folclore Açoriano, com balhares e cantares muito diferentes, em todas as Ilhas dos Açores, especialmente na Ilha de S. Miguel. Desconhece-se a sua origem. Sabe-se que tipicamente Açoriana, mas também se desconhece a localidade que lhe dei vida, espelha bem o sentimento de ser ilhéu
É um balho de roda, com pares, balhadeiras à esquerda dos balhadores, do lado de dentro da mesma roda, com a mão direita sobre o ombro destes.
O Açoriano deixou as suas Ilhas para ganhar o seu pão em outras paragens, ou também em demanda de aventuras, mas levou consigo o amor do seu torrão natal, que nunca esqueceu desta palavra “saudade”.

Quem parte saudades leva
Quem fica saudades tem
Por isso quem não terá saudades

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras próprias, e estribilho próprio
  • Passo - De Polca descansado em três tempos e valsa a partir de meio do estribilho
  • Pares - Em nº par ou ímpar
  • Movimentos - Dois

Balho dos Fenais

É conhecido por “Balho dos Fenais”, porque foi nesta localidade denominada de Fenais da Ajuda”, que foi feita a sua recolha, daí que se suponha ser originário deste local.
É um balho de fila, homens de um lado e balhadeiras de um lado e balhadores do outro.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras próprias e soltas
  • Passo - De Polca pulado e lento
  • Pares - Em nº de seis
  • Movimentos - Três

Sapateia

A Sapateia é uma das mais características e divulgadas modas dos Açores, embora sendo comum a todas as Ilhas do arquipélago, mas com coreografia e música diferentes em qualquer das Ilhas, é de modo especial da Ilha de S. Miguel.
A palavra sapateia, vem de sapato, sapatear, ou seja bater com pé no chão.
A sapateia que se balha em S, Miguel, oriunda da freguesia dos Mosteiros, concelho de Ponta Delgada, é um balho de roda, com pares, balhadeiras do lado de dentro da roda, de frente para os balhadores.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras próprias e soltas e estribilho próprio
  • Passo - De Valsa e passo próprio da sapateia
  • Pares - Em nº par ou ímpar
  • Movimentos - Dois

Marciana

A Marciana, é um cantar muito antigo, não se sabendo de que localidade é originário, sabe-se que era cantado praticamente em toda a ilha de S. Miguel.
É uma moda muito popular, na qual se vê o seu sentido humorístico na descrição de uma mulher que tentava mostrar aquilo que não era, tanto em beleza como em haveres.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras próprias e soltas com sentido humorístico e depreciativo

Balho Furado

É um balho tradicional da Ilha de S. Miguel, desconhecendo-se a sua origem, sendo mesmo muito antigo.
Ao balho furado, também lhe chamam “fado”, é moda nascida do povo e tão pura na sua expressão, como as restantes modas regionais. Alegre e jocosa, canta a alegria de viver na aldeia, canta a vida sadia da gente nova a expandir-se numa simplicidade graciosa. Por vezes nela se cantam o “desgosto” de um amor mal compreendido… mas isto só serve para dar prazer aos ouvintes. Cantado alternadamente por um homem e uma mulher, o balho furado presta-se a despiques e desgarradas de todo o género amoroso, humorístico, de escárnio etc. Nestes despiques o bom humor não deixa criar ofensas, ninguém fica ressentido.
Sendo um balho de terreiro e de rua, vivo e pulado, é o mais típico de S. Miguel, era usual balha-lo nas matanças de porco, apanhas de milho, desfolhadas, Festas do Espírito Santo e nas mais diversas romarias que têm lugar na Ilha.
É um balho de roda, com pares.

  • Acompanhamento - Violas da Terra, Violão, Tambor e Ferrinhos
  • Forma estrófica - Quadras próprias e soltas, com sentido humorístico, de desgarrada e despique
  • Passo - De polca normal no primeiro movimento e pulado nos 2º, 3º e 4º
  • Pares - Em nº par ou ímpar
  • Movimentos - Quatro

Balhes e Cantares

O Grupo canta e balha o que o povo da Ilha de S. Miguel fazia nos séculos passados nos seus folguedos, tais como Festas do Espírito Santo, Romarias, Matanças de Porco, Desfolhadas ou simplesmente nos intervalos e final da dura labuta da pesca ou agricultura, Cantar às Estrelas, que é de origem de religiosidade popular, de invocação a Nossa Senhora da Estrela que tem lugar sempre na noite do dia 1 para 2 de Fevereiro, parando em diversas casas a cantar onde é oferecido doces e licores.

Balhes

Caninha Verde
Pézinho da Vila
Balho da Povoação
Pezinho Velho
Balho do Santa Maria
Chamarrita
Irró
Bela Aurora
Manjericão da Serra
Tanchão
Cana Verde
Saudade
Balho dos Fenais
Sapateia
Balho Furado

Cantares

Marciana
Cantar às Estrelas

Instrumentos

Dos instrumentos, só usa o que é tradicional, onde se destaca a viola da terra de dois corações, o violão, o tambor e os ferrinhos.

Viola da Terra
ou Viola de Arame

A Viola da Terra, ou Viola de Arame, também conhecida por Viola de Dois Corações, é o instrumento musical mais típico dos Açores, que dá uma sonoridade ímpar ao folclore Açoriano.

Terá vindo para estas ilhas na época do povoamento, trazida de alguma região de Portugal Continental? Tendo depois se perdido na origem. Será fruto de evolução ocorrida durante os últimos cinco séculos nos Açores? Ou terá ocorrido evolução na origem e destino, fazendo com que seja difícil hoje saber-se a sua verdadeira origem. O certo é que é um dos ex-líbris do folclore Açoriano.